quinta-feira, 8 de abril de 2010

Pavilhão da Trienal de Milão

Na exposição LUCIO COSTA – ARQUITETO haverá uma réplica em escala 1/1 do Pavilhão da Trienal de Milão, de 1964.



Lucio Costa, em seu livro “Registro de uma vivência” (Empresa das artes, 1995), descreve assim seu projeto:

“Tempo Livre”
Pavilhão do Brasil: RIPOSATEVI1

O "tempo livre" em termos brasileiros pode ter como símbolo a rede e o violão. Assim, a nossa participação nessa Trienal devendo ser econômica – por força das circunstâncias – poderá também resultar atraente e útil para o publico de um modo geral por sua singularidade. Bastará apresentarmos ali um ambiente de estar “mobiliado” apenas com redes – cerca de 14 – e alguns violões dos mais singelos, ambiente este destinado a acolher o inevitável cansaço dos visitantes da exposição, e que por sua índole, despertará fatalmente a curiosidade de todos.

Os ganchos de suporte destas redes, dispostos em X – cada grupo de 4 construído por um mesmo vergalhão – estarão suspensos por cabos finos de aço, retesados horizontalmente por tirantes de arame; assim, o próprio apoio delas estará solto do chão, particulidade que dará maior ênfase ao embalo da rede e ainda acentuará a graça peculiar do seu golbo de gôndola.

O ambiente onde estarão será delimitado por painéis de meia altura entalados entre couçoeiras ou canos de prumo. A modulação da planta assentará sobre uma trama de hexágonos entrelaçados, ou seja, de triângulos eqüiláteros justapostos. Internamente dois desses painéis serão ampliações fotográficas; no, de face, uma jangada de vela enfunada, assinalando-se que esse utensílio de trabalho – da mesma região de onde procedem as redes – tende a desaparecer, cabendo então transformá-lo em esporte regional para que o artesanato dele se mantenha e a tradição não pereça; no oposto, o sugestivo instantâneo colhido em Brasília no dia da inauguração, onde figuram irmãs de caridade e colegiais brincando de roda, de mãos dadas, na Praça dos Três Poderes. Os quatro painéis restantes serão alternadamente verde escuro (sombrio) e azul claro (cobalto); as redes de algodão, da fábrica Filomeno, serão brancas, verdes, azuis, amarelas, cor de abobora, roxas e vermelhas (tal como vendidas no Ceará); o chão, de areia. Externamente aqueles mesmos painéis serão pintados de preto (brilhante) e branco (fosco) e cada um levará num canto, sobreposta, uma fotografia de Brasília (a Praça dos Três Poderes, a Plataforma Rodoviária, o Eixo Residencial e uma Superquadra) como sugestão que essa mesma gente que passa o ”tempo livre” na rede, quando o “tempo aperta” constrói em três anos, no deserto, uma Capital.

Na face externa dos dois outros painéis estará escrito Brasil com letras brancas sobre o fundo verde e amarelo de partes desiguais, vendo-se no campo maior – amarelo – ao alto um circulo azul.

À guisa de teto ou dossel, haverá um conjunto de faixas amarelas e brancas2 penduradas e, sobrepostas a elas, letras altas e verdes convidarão o visitante a repousar: REPOSATEVI.

A legenda da foto, Lucio Costa escreve:
PS - Os violões, dos mais baratos, comprei-os à ultima hora, na Rua da Carioca.
Ao noticiar a Trienal a revista TIME publicou uma única foto: a da nossa participação

Um belo trabalho sobre o Pavilhão foi desenvolvido por Eduardo Pierrotti Rossetti, doutorando FAUUSP, sob o titulo Riposatevi: a Tropicália de Lucio Costa na XIII Trienal de Milão e pode ser visto no site:
http://www.docomomo.org.br/seminario%206%20pdfs/Eduardo%20Pierrotti%20Rossetti.pdf

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1. Colaborou no projeto o arquiteto Sergio Porto e as fotos são de Marcel Gautherot. A iniciativa foi de Jayme Maurício e sua filha Helena Costa esteve presente na Trienal.


2. Na montagem, Lucio Costa substitui por faixas, azul, verde escuras e brancas.


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